O Globo Online
RIO – Uma pesquisa sobre valores do brasileiro, realizada pela agência nova/sb em parceria com o Ibope, mostra que um em cada quatro (ou 26% do total ) admite a tortura. Eles dizem que, se fossem um policial combatendo o crime, torturariam suspeitos. A pesquisa revela ainda preconceitos de raça e orientação sexual: 33% disseram que se afastariam de um amigo se descobrissem que ele é homossexual. Questionado ainda sobre temas como meio ambiente e trânsito, o brasileiro se define como um cidadão progressista, mas diz que o Brasil é um país conservador, mostra reportagem do jornal “O Globo” na edição deste domingo. A pesquisa também revela a incongruência entre a teoria – aquilo em que o brasileiro diz acreditar e seu comportamento na prática.
Vítima de acidente alerta que beber pouco ainda é beber
Do total de entrevistados pela pesquisa nova/sb-Ibope, 78% afirmam que não bebem quando dirigem, enquanto apenas 19% admitem beber. Rita de Cássia Lucas Miguel, de 38 anos, poderia estar no primeiro grupo. Antes do acidente que a deixou 45 dias em coma, beber “um ou dois chopes” era como não beber. Hoje, sabe que as latas de cerveja foram suficientes para fazê-la perder o controle de sua moto. Naquele 6 de maio de 1995, ela repetiu a rotina de beber “socialmente”, na saída do trabalho, no Humaitá, Zona Sul do Rio. Levava um amigo de carona, para Realengo, na Zona Oeste, quando decidiu comprar latinhas e consumir enquanto pilotava a moto. Passou por uma blitz foi liberada, depois de apresentar os documentos. Pouco adiante, sem controle, a moto explodiu. Em seis meses, fez 22 cirurgias para reconstruir a pele do abdome, das pernas e do braço esquerdo. (Veja aqui depoimento de Rita em vídeo e opiniões do povo na rua sobre bebida e direção).
Diferença de classes marca posição sobre tortura
A diferença de classe social marca fortemente a posição dos brasileiros em relação ao uso de tortura para obter informações de suspeitos. Enquanto entre as pessoas com renda superior a cinco salários mínimos o índice chega a 42% de aprovação, entre os que ganham até um salário mínimo, o percentual não passa de 19%. Entre os que têm curso superior, o índice é alto: 40%, de acordo com os dados da pesquisa nova/sb-Ibope. No geral da população, 26% aprovam a tortura.
Para o secretário Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, o resultado da pesquisa não foi dos piores. Ele disse que temia percentuais maiores em consultas à população sobre temas como uso de tortura como método de investigação. Vannuchi afirmou que o resultado mostra que as pessoas consideram ser mais politicamente corretas do que realmente são no dia-a-dia.
– Confesso meu temor que encontraria número maior de pessoas admitindo a hipótese do uso da tortura na investigação policial. Os 26% detectados pela pesquisa são preocupantes, sim. O ideal é que seja 0%. Mas o resultado não deixa de ser tranquilizador para nós que atuamos na ponta dos direitos humanos – disse Paulo Vannuchi.
*Matéria publicada no dia 09/03/2008